segunda-feira, 23 de abril de 2012

Entrevista Completa dada à Revista REVIDE sobre o caso Maison

Aqui está o Link da parte editada da Revista REVIDE, mas segue também a entrevista completa, para quem interessar.
Obrigado pela atenção.
Com pesar sobre a Maison... de um circo para outro...

http://www.revide.com.br/gerais/discussoes-ambientais/

mas Segue entrevista completa, pois está mais informativa.

1- A manifestação que acontecerá no dia 28 acontecerá em uma cidade específica ou em várias cidades simultaneamente?
2 - Existe um grupo ou uma ONG coordenando essa manifestação pelo Brasil? E aqui em Ribeirão Preto tem? (Estou perguntando isso, pois é legal ter um nome para atribuir)




1 e 2 – A manifestação anti-vivissecção e experimentação animal estará ocorrendo no mundo inteiro no dia 28/04. No Brasil será o segundo ano que ocorre, e ampliou desde sua primeira edição, com apenas cinco cidades participantes, para mais de 50 cidades. No Brasil tem como organização coletivos como o grupo “Cadeia para quem maltrata os animais”. Tem como objetivos sensibilizar as pessoas e instituições de pesquisa sobre os direitos e o bem-estar dos animais, o consumo consciente de produtos que não explorem os animais e gerar um encontro de ideias e pessoas para se pensar alternativas. Aqui em Ribeirão Preto é uma organização independente de pessoas engajadas com a causa. Podemos chamar de movimentos ING e ONGs: indivíduos e organizações não governamentais.

3 - No dia 28 vocês se reunirão, a partir disso vocês farão algum ofício para enviar às secretarias municipais e a prefeitura?

3 – A ideia de início é sensibilizar as pessoas e causar reflexão. Os encaminhamentos futuros podem ser o convite à comunidade acadêmica, como o comitê de ética da USP, para se debater o assunto, ter um panorama geral da situação, e pensar alternativas que possam se materializar em mudanças. Responder a perguntas como: qual o limite do tolerável? Existem procedimentos e protocolos científicos que podem ser revistos para diminuir a mortalidade das cobaias? Coisas deste tipo. Mas penso que ficará restrito num primeiro momento ao debate junto às instituições de pesquisa.

4 - Sobre o Santuário Animal e o centro de triagem e reabilitação de animais silvestres. Se faz necessário aqui em RP?

4 – Sobre o santuário animal, o centro de triagem e reabilitação de animais, se faz mais do que necessário. Na região de Ribeirão Preto temos a paisagem do meio rural extremamente fragmentada, com matas de cerrado e floresta semi-decidual, que comportam grande quantidade de fauna, como lobos-guará, tamanduás, veados e outros animais que estão em risco de extinção. Esta fragmentação faz com que estes animais se desloquem para os canaviais, para as beiras de estrada, por não terem mais seus habitats naturais preservados. Assim estão sujeitos ao fogo dos canaviais e às mortes por atropelamento. Quando um animal destes é capturado nestas situações, é solto sem nenhuma previsão, acompanhamento e monitoramento da existência de outros da espécie por perto e de como está sua saúde. Na falta de uma estrutura para endereçar estas questões, quem faz isso é a polícia ambiental ou os bombeiros, que não tem uma análise mais aprofundada com a fauna na região, situação que seria resolvida com o estabelecimento de um centro de reabilitação e triagem de animais silvestres. Este é um mecanismo para dar suporte à biodiversidade da fauna nativa, gerido pelo IBAMA, e que não existe na região de Ribeirão Preto.
Quanto ao santuário animal, se trata de uma outra forma de estabelecer a relação homens-natureza. Os zoológicos como conhecemos são lugares para as pessoas. Os santuários tendem a ser lugares para os animais. Esta é a diferença fundamental. Isto implica na percepção ambiental das pessoas sobre a responsabilidade com o mundo que os cerca. Basicamente é uma forma de oferecer qualidade de vida aos animais e melhor educar as pessoas. O zoológico tenta recriar um ambiente artificial, para na aparência lembrar o habitat da espécie. No santuário, o local a ser escolhido já tende a ser o habitat natural, ou muito próximo disso, com ampla liberdade, autonomia e dignidade para as espécies residentes.

5- Existe casos de experimentação e vivissecção animal aqui em RP? (Desculpe se a pergunta soou um pouco óbvia, mas é que não sei mesmo)


5 – a maior parte das instituições de pesquisas como a USP, Barão de Mauá, Moura Lacerda, fazem uso de cobaias para seus experimentos, aulas práticas, etc. A USP mantém um biotério com ratos, coelhos e cobras para suprir os laboratórios de pesquisa. Não tenho acesso agora ao número de animais mortos por dia, mas com certeza não é um número trivial.


6- Tem uma base de quantas pessoas se reunirão no sábado (28) aqui em RP?


6 – estamos esperando algo em torno de 30 pessoas para o debate do dia 28. Ainda são poucas as pessoas que efetivamente se engajam para a luta nas causas animais, por isso a necessidade de promover estes encontros para estimular a ação e sensibilização.


7- Você citou questionar a capacidade do bosque como abrigo para animais. Acha o local inadequado?

7 – Uma coisa é pensar se o zoológico é um espaço para os animais ou para as pessoas. Penso que o bosque zoológico é um espaço para as pessoas conhecerem uma diversidade de bichos, mas que não consegue efetivamente promover outra função inerente a estes espaços: a conservação das espécies, com bem-estar, dignidade, e capacidade para a reprodução. A taxa de reprodução das espécies em zoológicos é muito baixa. A partir desta resposta vamos para outro elemento que deve ser analisado.
Para compreender o bosque é preciso colocar em perspectiva histórica sua ocupação. O espaço foi recebendo sucessivas liberações do IBAMA para receber animais, e acabou por se tornar um zoológico. Mas não foi uma instituição que foi planejada para isso. Foi um improviso, que foi recebendo improvisos, e hoje está operando, ainda improvisando. Tanto que o recinto da elefanta Maison é um improviso, uma vez que não tem vocação natural para comportar um elefante. Digo vocação no senso Amplo. Não os 750 m² que o IBAMA diz ser suficiente para alojar um elefante. E é justamente esta cultura do improviso que as administrações públicas precisam superar para que dê lugar à cultura do planejamento sistemático, encadeado, consequente, que reflita os avanços da tecnologia e permita a inserção dos valores da sociedade.
Um reflexo desta cultura do improviso e uma implicação prática puderam ser observados no feriado da páscoa. A caminhada do calvário terminou no Morro do São Bento. Ao final da encenação houve a queima de fogos imediatamente ao lado do Bosque Zoológico, afetando a todos os animais. Tentei acessar as secretarias de cultura e o bosque alertando para este problema antecipadamente, e houve apenas negligência.
Uma cultura de planejamento incorporará elementos do uso e ocupação do solo, criando parâmetros normativos que levem em consideração as peculiaridades, como a presença de um zoológico ao lado da queima de fogos. No caso, a construção de um santuário animal deve considerar diversos aspectos para a sua localização, que irá refletir na relação com o seu entorno, como a criação de um ambiente de paz para os animais residentes, permitindo, entre outras coisas, aumentar a compressão dos seres humanos sobre como nossas ações estão conectadas com a natureza. Afinal, somos todos uma coisa só.


8- Só para ter registrado, vou perguntar outra vez: O caso da Maison foi um divisor de águas para os protetores de animais decidirem se reunir?


8 – Recentemente a sociedade vem despertando e se sensibilizando sobre a condição animal no Brasil, mas com certeza a elefanta Maison foi um disparador para suscitar uma série de questionamentos. É preciso ter maturidade e ir além do tabu para endereçarmos qual o futuro que queremos para nossa sociedade, nossas crianças, nosso ambiente e isso perpassa por fazer uma análise crítica sobre como as nossas instituições estão organizadas.

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